quarta-feira, 22 de junho de 2011

Redação sem estrelas

O Ministério do Turismo está reclassificando os hotéis (e outros estabelecimentos de hospedagem) do país de acordo com o que oferecem aos seus clientes. Vai sair distribuindo estrelas e disse que tem seus critérios.

Só não teve critérios quando hospedou muito mal uma crase no vídeo de apresentação do projeto. Ao escrever "validado junto à entidades do setor", tinha duas belas opções: não usar crase na preposição ou usá-la juntando com o artigo no plural. Mas escolheu essa feiúra aí.

Alô, governo! Da próxima vez, valide seus programas junto "a entidades" ou "às entidades" do setor respectivo. Aí sim, uma ação legítima.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Onde usar onde


Os riscos e grifos abaixo falam por si só. A lição é simples demais, mas também esquecida demais.


Associa-se também sociedade de risco à expressão segunda modernidade, conceito este cunhado por Ulrich Beck, onde segundo o qual o homem perdeu o controle sobre o avanço científico e tecnológico.


Não foram poucas as observações coletadas, onde a partir das quais se concluem os resultados trazidos.


Trata-se de um caso onde em que 3 menores foram encaminhados à delegacia para ajudar nas investigações.


Todas aquelas são características do medievo, onde quando poder secular esteve inegavelmente recuado diante do poderio eclesiástico.


O paciente deseja voltar à faculdade, onde acredita poder encontrar e reconhecer a verdadeira responsável pelo incidente.


Viu? Onde = advérbio de lugar!



terça-feira, 9 de novembro de 2010

Quando você pensa que disse

Vamos ser excelentes no que fazemos, certo? Estamos aqui para escrever corretamente. Ainda que você tenha acabado de revisar seu texto e pensado: "Ufa, consegui dizer tudo!", que tal fazer um segundo exame para conferir a precisão da sua redação?

Vou listar alguns exemplos em que os autores dos textos escreveram um pouco menos do que queriam (ou do que deveriam).

Nenhum homem e nenhuma sociedade vivem isolados, e isso há muitos séculos, sendo que essa interdependência tornou-se mais latente após a 2ª Guerra Mundial.

Com o advento da Lei n. 11.705/08, que alterou inúmeros dispositivos previstos na Lei nº 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro), houve uma verdadeira remodelação do aspecto processual na aplicação de sanções para tais delitos.

O alcance da maioridade civil não gera necessariamente perda do direito a alimentos, existindo casos em que tais pessoas ainda necessitam dos mesmos para a própria sobrevivência.


Qual interdependência, quais delitos, quais pessoas???

As expressões em destaque nos trechos acima deveriam retomar sua própria presença nos textos. Entretanto, eles surgiram órfãos. Escolhi propositalmente casos em que a continuidade do raciocínio permitisse a compreensão das ideias. Mas espero que tenha notado que a técnica ficou de lado.

domingo, 15 de agosto de 2010

Mal travado e maltratado

"Esse é o grande clamor da sociedade brasileira", disse o presidente do TST sobre a recentíssima Lei 12.275. Ela exige depósito recursal para interposição de agravo de instrumento na Justiça do Trabalho. Talvez seja.

Da minha parte, clamo para que as leis - pelo menos elas - dispensem algum respeito ao português. Antes de apontar o erro, como de costume, ofereço-lhes o objeto para apreciação:

No ato de interposição do agravo de instrumento, o depósito recursal corresponderá a 50% (cinquenta por cento) do valor do depósito do recurso ao qual se pretende destrancar.


Por acaso você, em sua casa, tranca às portas? Destranca aos cadeados? Pois lá no Congresso Nacional, quem redigiu essa lei faz isso.

Acho que o tal recurso, como dizem por aí – não me pergunte quem – não estava trancado; estava era amarrado (3 vezes). =P


sábado, 14 de agosto de 2010

Por que não citar a Wikipédia em artigos científicos

Cena 1
O estudante de Direito [pode ser de graduação ou pós] está em sua casa dando um duro danado pra fazer um artigo sobre transconstitucionalismo, que seu professor requisitou como avaliação da disciplina. Percebeu que precisará fazer uma pequena digressão sobre globalização na introdução, já que seu tema não é habitual. Mesmo tendo trazido 8 livros da biblioteca, nosso amigo não encontra um bom conceito de globalização que possa parafrasear. Joga no Google e encontra algumas informações que encaixam perfeitamente no espaço que havia ficado. Entretanto, estão na Wikipédia. E agora?

Cena 2
O professor está corrigindo os artigos e crava os olhos na nota de rodapé aberta para fazer referência à Wikipédia. Lembra-se do que disse em sala de aula: “Sejam neuróticos com as fontes. Nunca deixem de informar o leitor sobre a origem da informação que faz parte da pesquisa de vocês. Nós estamos aqui para fazer ciência. Um artigo é escrito para ser lido por outras pessoas, não pelos próprios autores...”

Cena 3
Na aula seguinte, outro aluno faz a defesa do colega que teve sua nota diminuída: “Professor, com todo respeito, acho que o senhor está desatualizado. Eu li uma pesquisa da revista Nature que diz que a Wikipédia é tão precisa quanto a Enciclopédia Britânica. Como o senhor pode dizer que ela não é uma fonte séria?”

O início de discussão relatado acima é só um exemplo fictício do que talvez aconteça cotidianamente. A menos que sua IES tenha proibido o uso da Wikipédia como fonte bibliográfica, o debate está aberto.

Considero que a questão passa por algo anterior. Qual a utilidade das referências bibliográficas? Resposta: permitir a rastreabilidade da sua produção acadêmica (artigo, monografia, dissertação, tese etc.). O que o professor fala na cena 2 está corretíssimo. Quem vai ler seu texto precisa ter a opção de checar diretamente na fonte. Todo mínimo avanço científico se apoia no que já foi descoberto anteriormente. Isso pressupõe a responsabilidade dos autores/pesquisadores sobre suas publicações.

Longe de desprezar a importância da Wikipédia (e de outras fontes que se utilizam do formato Wiki) no contexto atual de democratização da informação, o fato é que ninguém pode ser responsabilizado pelo que está lá.

Caso o senso comum sobre um conceito seja suficiente para o seu trabalho, é válida a menção à enciclopédia aberta. Também é igualmente válida a dispensa de referência. Afinal, mesmo num trabalho científico, há informações que não têm dono.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Em que pese a

Os leitores do blog talvez tenham dado conta da pouca atividade por aqui. Espero que tenham percebido também que os trabalhos por um mundo melhor continuaram no nosso twitter. Muitas dicas cabem em 140 caracteres e – concordemos – o mundo está cada dia mais expresso.

Eis o conteúdo não tuitável do dia.

Qual das duas frases está certa?

Em que pese à acusação, o direito do apelante está plenamente resguardado.

Em que pesem as teses levadas à contenda em face da nossa sociedade, permaneço impávido.

Resposta: ambas!

Use “em que pese a”, sem variação para o verbo pesar e com preposição, quando significar “ainda que incomode (a alguém)”.

Já quando quiser dizer “apesar de”, coloque a locução concordando com o sujeito e sem preposicionar.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Quantas doses de latim?


Se, por um lado, tem algo belo no ufanismo dos que evitam estrangeirismos, por outro, é ingênuo supor que há como conter as permanentes influências entre as línguas.

Sabia que, em filologia (estudo da história das línguas), evoluir significa simplesmente mudar? Poético, não?

Mas tudo tem um limite.

Falemos do latinismo.

Não há dúvidas de que um texto fica mais limpo quando usa “no caso” em vez de "in casu", “perigo da demora” em vez de "periculum in mora", “condição indispensável” no lugar de “conditio sine qua non”.

Cada um tem seu estilo. O problema é que a comunicação se faz com a participação de outra pessoa. Fique à vontade para ser vaidoso. Muitas vezes pega bem.

Se tem que ajuizar uma ADI em matéria tributária, vá em frente com seu rebuscamento. Garanto que os membros do STF entenderão (apesar de alguns não gostarem). Só não me diga que parece minimamente plausível despejar latim numa sentença trabalhista cujo principal destinatário será um empregado doméstico.

--> Clicando na foto acima, uma imagem incrível do Coliseu, presente da Wikipédia.