Já comecei a ouvir desabafos das pessoas que se incomodam com erros na linguagem. Num desses ambientes acadêmicos ou pelas vias – não ruas – de Brasília, me chega uma voz decepcionada: “Pois é, o professor Gilmar não só usa crase como a defende. Disse que ‘interpretação conforme’ já virou uma expressão. Nem entendi aquela loucura.”

Para matar as dúvidas provocadas pela denúncia, pesquisei até descobrir que é possível seguir os passos do ministro.
O Houaiss diz que, como preposição, “conforme” é:
12 de acordo com; segundo, consoante
Ex.: fez tudo c. o previsto
Nada mais simples, certo? Limpinho. Sem crase. Interpretação segundo a Constituição.
Entretanto, “conforme” também pode ser um adjetivo:
5 proporcional, adequado às qualidades, ao valor de algo ou de alguém; condigno
Exs.: uma reação c. ao estímulo recebido um presidente c. ao fundador
Colocada assim, vemos que a leitura é outra: interpretação adequada ao valor da Constituição.
Qual a diferença? É bastante sutil. No segundo caso, há uma ênfase à qualificação da palavra conforme, o que confere maior solidez de sentido quando se usa a forma reduzida “interpretação conforme”. É ou não é isso pra isso que um adjetivo serve?
...Aprenda a escrever com os erros dos outros. E com os acertos também. ;)
> A foto acima foi de uma sessão de distribuição de exemplares da Constituição na Praça dos Três Poderes. Festinha de 20 anos.
Um comentário:
Eu tinha o mesmo entendimento, só que de forma meio intuitiva. Graças a sua explicação ficou claro pra mim. Obrigado. A diferença é bem sutil, como você afirma, mas existe, e diante da controvérsia no uso em tribunais e na jurisprudência tendo a concordar ser mais adequado utlizar crase.
Guilherme Amorim - Belo Horizonte
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